quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Não Faz Sentido... Mas é Bom:

Eu retorno. Talvez o maior clichê seja justamente a volta. As épocas colidem no espaço, e tudo parece ser o agora de sempre. A data bagunçada do calendário, as brigas com o tempo, a insatisfação do que não pode ser vencido. E o grito na garganta que urge. Mesmo que tudo reconstrua os sonhos bobos de 10 anos atrás, ainda que os prazos recebam uma validade maior... Nada pode derrotar um destino campeão.
Eu volto pra buscar o que se perdeu. As coisas as quais eu já nasci sem possuir. Volto pra tentar ir além, aonde minha natureza fraca não permite. Eu sempre estou aqui pra dizer a mim mesmo as coisas que não fazem diferença. Eu empunho a adaga corroída pelo sal do mar, o papel devorado pelas traças (e as lágrimas) e logo o sangue rebate com aquele olhar autoritário, de quem tem a razão.
Sou falastrão mesmo no silêncio. Tropeço nos pensamentos e deslizo em algumas línguas e palpites maldosos. Dou lições de moral (as quais são inaceitáveis), e filosofo para além do meu amor. Minhas paixões são quebradiças, fluxo intermitente de um ego blindado pela razão obsoleta. Inadequado, de humor tempestuoso e olhos marejados pela brisa à beira do asfalto.
Lá nos capítulos finais, quando achamos que já entendemos como será o final e iniciamos as previsões cheias de certezas e convencimento, eu monto minha barraca e passo umas férias. Lá no limiar entre o que era e o que um dia poderia ser. Eu não vou para além disso, nem remo de volta na minha canoa de ferrugem. Eu deito na rede, cruzo os braços e pego um livro qualquer.
Nestes segundos finais, lembro de beber do por do sol a força pra levantar amanhã. Como um diário bumerangue, minhas verdades flamejantes cortam e estilhaçam as palavras, até não restar nada. Eu estou em todas as coisas que faço, mas jamais me encontrarei em qualquer uma delas. Sou aquele que ficará a dois passos da verdade que procura, o guri que tropeça nos cadarços do próprio all star e que ajoelha ali mesmo - mas não reza.
Cheguei tarde demais na fila das boas escolhas, peguei um taxi e fui pra padaria mais próxima. Encontre-me na escadaria, 7º andar. Não tem erro, eu sou o garoto que esconde os livros e te entrega uma lâmina presa no sorriso. Nade baby, nade ou morra tentando.

domingo, 3 de novembro de 2013

Torta de Manhã

É, às vezes eu não sou nada além disso: Um pedaçinho do que sobrou do café-da-manhã. Mas quem se importa? Eu ainda não sei se sou a cafeína adoçicada, energia do amanhecer. Talvez eu seja só um pedaço de torta de damasco, e todo o sonho infantil na casa da vovó.

Geralmente eu sou redutivo, reduzido a estas linhas. Escrito em 3 minutos, sem interromper a ideia. Raramente algo é refeito. Apagado para ser reconstruído. Por vezes, eu sou só essa soma de palavras da madrugada, e pela manhã, tudo já se foi.

E eu não preciso ir muito além disso. Assim como a música, eu sou só o último gole de refresco, a mordida que sobrou da torrada com geleia. Poucas vezes eu sou algo além disso, e quando isso acontece, talvez eu seja pão doce ou duas colheres de arroz.

Mas quem posso enganar? Isso tudo não é pra saciar minha fome. Eu só quero aquela cabeça leve no travesseiro, e em algumas noites, o tic-tac do relógio na cozinha. Mas num todo, sou apenas pizza gelada e suco de laranja.

E eu não sei aonde posso chegar. Não sei o que já consegui. Sei o que desperdicei, o que destruí, o que roubei, o que finji. Sei até aonde o meu amor me consome, e sei bem do que preciso. Mas essas respostas chegam tarde, chorosas e azuladas. Mas nestas horas, eu sou apenas um prato-feito, sem sobremesa.
Eu sou um escritor (não sou?) e me reafirmo em cada gole dessa partida.

Tic

Tac

sexta-feira, 11 de outubro de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Vigésimo Segundo - O De Sempre com Sabor de Ameixa:

Eu sou a máquina ininterrupta dos versos. Fatiador de poemas, sou fluxo sanguíneo de hemáceas falidas, e minhas artérias bombeiam um jogo de esgrima fálico e sombrio. Construtor das vozes, sou maestro da minha marcha fúnebre, e recupero os versos facínoras da minha esquerda revoltosa, e realinho os ponteiros e os caracteres. Sou político da minha essência, filósofo moderador do tempo.

Bandido de causa perdida, eu sou Clive: apenas um retrato almejado e uma fotografia já alcançada. Uma resposta sem pergunta, e um questionamento constante de tudo o que eu não posso ser. Antítese do meu próprio eu, sou um diário violado. Um violão reafinado pelas cordas do tempo. Sou a série de vestígios datados do que não vivo, plateia da quintessência dinamizada.

Eu sou meio Clive, e durante o dia, hipérbole de rádiofrequência. Um projeto amador de desafio. Amante das anti-coisas, anti-herói de natureza. Falador de nada, mas sexualmente voraz e tagarela.

Eu vivo sem as regras corretas, e imagino o mundo como capítulos resenhados instantaneamente. Eu beijo o asfalto molhado, e deito com a sangria dos vagalumes. Quando eu to meio Clive, eu só assovio os ventos do norte, e escalo as nevascas montanhescas da tua pele. Lagarteando o sol das 3 da tarde, te beijo escondido, porque afinal de contas, tudo termina assim, no beijo.

Esse início que nunca acontece. Eu corro direto pra última dança, o abraço da despedida. O beijo mordido, a saliva incandescente. Eu te abandono por 1 mês para te amarrar pelo resto das madrugadas. E lá está, uma vez mais, a mesma conversa, as mesmas palavras, e o mesmo não-eu.


Acorrentado pelas desinências de um caráter prolixo, vítima de um pleonasmo culposo de índole variável. Falante inventor das bordas de meio-fio, leio os aromas dos teus olhos e te convido pras banalidades da minha levianidade.

Tu chega mais perto, lambe o contorno lobular da minha boca e aproveita o teu sabor preferido: Lábio de alcaçuz com ameixa.

quarta-feira, 11 de setembro de 2013

Intervalo...: Bilhete Encontrado na Jaqueta de Clive:

Se você tem um pedaço de mim, queime-o antes que ele lhe devore.

Eu sei, as promessas estão tão fugazes quanto o intervalo do cinema. Mas eu aproveito o escuro, e te beijo com um cubo de gelo entre os dentes. Do pátio da tua casa, reviramos as selvas inóspitas do teu aconchego, e visto, e revisto tuas camisolas com o meu coturno 39. Tu é meu fetiche da infância, e enquanto eles correm lá fora, nós fazemos cabana com os lençóis (e que histórias para contar!).

Eu já não me importo com esse deslize relapso. Eu reconstruo tua beleza, traçando (e te traçando!) versículos apagados do último livro que eu tentara começar. Teu olhar me cega, tu recusas meu amor vagabundo, minha sinfonia bagaceira e desmerecida, e enfia os fones no teu ouvido. Te tranca pra mim, te esconde nos sons ébrios da tua memória que eclodem um desarranjado grito: "Diz que não!".

Mas, meu bem, nós dois sabemos que a resposta é sempre 'sim'.

quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Vigésimo Primeiro - Faz Meu Mapa Astral Que Eu Te Compro Uma Bailarina:

Eu vivo em 5 minutos. Sem muito o que dizer, só desenho o epitáfio erguido. Meu horizonte é noturno, eu vejo as bailarinas mergulharem do céu com o voo das corujas. As folhas enrijecem a lápide do outono. Minha vida é diário bumerangue. Trechos vazados de mil canções enfim, sem Cd, sem discoteca. Meus álbuns morrem nas prateleiras de bibliotecas quaisquer.


Por 5 minutos... Eu amo o barulho da construção, os arranha-céus que perfuram o miocárdio e as lagartixas que surfam na cozinha. Minhas paixões são rotacionais, reacionárias. Incêndio planejado, sussurro de deboche.

Pouco menos de 3 minutos e meio. Tu não gastas isso para ler, mas sim para viver. Não me elogie. A sua leitura é a minha vida. Tu me escreve enquanto eu te desenho. Eu te rasgo para poder te colar, e dessa vez nem os 2 minutos finais te farão me amar novamente, mas ainda assim eu chego mais perto, com meu sorriso comprado no boteco da esquina e te sirvo uma tequila.


Tu faz dos meus lábios o limão e o sal. Sou barman da tua beira de estrada. Cigano da tua astrologia fajuta. Por 1 minuto e meio eu te juro planetas desconhecidos, te convido pra festas de Baco e ainda alugo um flete pro nosso casamento. Cerimônia feita. O cuspe dele parecia sangue - tu sussurra. Apontando pro cerimonialista - Uma víbora de meia-idade que tosse os estragos de sábado passado.


Um brinde! 30 segundos finais. Eu arranco tua moeda, atiro contra a parede. Desafio mental lançado. Nossas mãos entrelaçam-se, como ritualistas que acreditamos ser e pagamos com nossas vidas pela vida toda que eu te planejei. Tu é viajante, boa companhia, mergulha na minha overdose e lambe meus restos.


Tu chega perto, morde meu estômago e as luzes da bailarina (aquela, voadora, linda, borboletal (cof cof) ), focam em mim. As hélices param de girar, o poeta adormece, cansado. E tu aí dançando no tempo e me reinventando com os olhos, nesse silêncio, nessa amargura, nessa ironia, nesse desinteresse.
Tu arranca meu relógio.


Beija-o.

Fim de jogo.


Por enquanto!

segunda-feira, 15 de julho de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Vigésimo - Teu Chiclete É Meu Caboom TechnoHouse:


Só mais uma vez - sussurrei. E junto disso, um gemido se espremeu pelos meus lábios (hoje, poderia apostar que o sussurro não foi sonoro. Deve ter fica enjaulado na mente). Sua mão escorrega por dentro da minha calça. Tu trabalha toda a física quântica do meu corpo, como estudioso que é há tempos. E dessa vez, por incrível que pareça, eu permito ser levado. Afobado logo devoro tua roupa, e comprimo meus caninos aguçados no teu pescoço vibrante. Arranco o arrepio da tua pele à força.


Em trajes íntimos, despistamos os romances da década de 40 e ignoramos os sons do Bang Bang mexicano que está no último volume na tevê do quarto ao lado. Lambendo-me tu logo descobre uma nova América e te apaixona pela rebeldia dos colonizadores. Minha alma trancafiada num Tunts Tunts de duas noites atrás te convida pra entrar. Algemado, vítima que caiu na armadilha, é como te consumo.


Pela última vez - Eu digo. Dessa vez um grito desafinado, que realmente foi pronunciado. Mas eu repito o engano. Últimas vezes constantes que se intercalam nas noites vazias. Tu és comprimido de felicidade. Minha ressaca literária. Eu te escrevo e te reconfiguro por mero capricho, excitação momentânea. Depois te descarto, elimino dos meus quadros de sala.


Expulso. Retirado da caixa de brinquedos da infância, não se adequa ao tempo nem ao espaço. Amargo demais, te devolvo ao nada. Sua diabete me perfura o baço. E em questão de segundos, a cena suja do pop nova iorquino já se alastra pela minha cama de novo. Maldito sábado!

Só mais essa vez vou estourar seu chiclete. E na dança pervertida das tuas boas intenções eu te peguei. Lagarto que desafia o deserto, tu és madrugada de prata pro meu coração vampiresco.

terça-feira, 2 de julho de 2013

Bring Me The Killers _\m/

Saindo da minha prisão e eu estou indo muito bem. Devo estar desanimado porque eu queria tudo isso. começou com um beijo, como foi terminar assim?
Nadando por loucas canções de ninar, sufocando-me em suas justificativas.
Mas é apenas o preço que eu pago. O destino está me chamando.
Abro meus olhos ansiosos. Porque eu sou o Sr. Otimismo.



De volta.

sábado, 8 de junho de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Nono - Tua Felicidade É Meu Infarto Fulminante:




As horas passaram. Perdemos o trem e nossas passagens perderam o valor. De que adianta o final bonito se todo o caminho pra alcançá-lo foi desonroso? - Eu te pergunto.

Sem uma resposta imediata, prossigo. Meu pote de ouro tá bem aqui. Logo no início. Sem arcos, sem íris.
Tu chegas perto do chafariz. Agacha-se pra olhar no espelho d'água. Teu rosto tá manchado. A maquiagem ainda não saiu por completo. Tu esfrega as bochechas com um pouco de saliva pra tirar o tom corado (falso) que aplicara. Eu sento do outro lado do chafariz, vendo a corrocinha de algodão doce passar. Tudo passa.


Eu leio tua mente. Decifro tuas mãos inquietas. A vontade de me atacar é tão perceptível que logo o aroma desse feromônio exala dos teus lábios. Tu és caçador. Eu visito teu quarto, te trago minhas bobagens e anoto teus olhos pra depois guardá-los no meu violão.

Tuas mentiras são sutis. Eu quase não as percebo. Sorrio e tiro a roupa. Faço sexo com seus lábios, bem diante de todos. Na escada, no hospital, no meio da praça. No restaurante tu passa por mim. Atropela-me, sussurro. Não te conheço. Nunca nos frequentamos. Mas os banheiros de bares sujos logo nos desmentem.


Tu te aproxima. Senta ao meu lado almejando afogar-me ali mesmo. Passam milhares de hipóteses. Tu até fez uma lista delas no diário que finge não mais usar. Toda noite acrescenta à lista uma ou duas maneiras de me torturar. Devolver o mal que eu te causo. Tuas lágrimas são as exclamações.


Mas não mata. Eu te levo pro motel mais barato. Deitamos. Minhas botas te incomodam. Te recusas a olhar o espelho do teto. Eu fico vidrado. Fissurado nos lençóis. Logo tu imagina como seria me sufocar ali mesmo. Com o travesseiro no meu rosto pra sentir meu oxigênio pedindo socorro. Eu to muito chapado pra me defender. Eu sou caça.
Logo teu sorriso nasce. Tu me oferece um drink. Recheia ele com analgésicos e anti-inflamatórios. Mistura tudo muito bem. Pra quê? Eu pergunto. Tu estás preocupada. Sei que essa é a resposta. Tu me beija. Teus lábios escorregam.
Adormeço. Tu termina o serviço. Sozinha.

sexta-feira, 24 de maio de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Oitavo: Se A Vida Me Desse Um Mapa, Era Com Você Que Eu Gostaria De Me Perder...

Na vida, a gente escolhe em que acreditar!

Dizendo isto, a profecia parecia cumprir-se. Claro, essa não era a resposta que eu precisava, mas isto soou tão bem que eu nem questionei. Cheguei mais perto, passei meu braço por sobre seus ombros delicados e escorei a cabeça junto a dela. O frio fazia aquela 'fumaça' sair de nossas bocas, enquanto tragávamos o silêncio. Pensei em dizer algo inteligente, talvez até filosófico. Mas o que saiu foi "essa droga de vida é culpa tua!". Mais uma pausa. Nem a olhei. Não precisava. Sabia que suas bochechas estariam coradas e seus dentes rangeriam como escape para evitar o fluxo descontrolado de xingamentos que viria. Ela sempre foi superior. Tudo o que eu queria era a briga seguinte, que não aconteceu. Pela primeira vez senti que concordamos.


Culpar alguém por suas más escolhas é ridículo, eu sei. Nem mesmo pedi pra que você estivesse lendo isso agora. Então se quiser, pare. Volte. Pense bem: O que histórias de um condenado podem te acrescentar positivamente? Sou só um cão vagabundo, sem dono, sem rumo. E aqui nem tem poesias ou histórinhas de amor pra te envolver. Na boa, pode desistir. Eu só vivo as más escolhas, porque cheguei atrasado pras boas.

Ela então deitou-se, e meu corpo se sentiu na obrigação de acompanhar o movimento. Culpa da gravidade, vocês sabem. Minha mão esquerda escorregou para sua coxa, e em seguida para a virilha. Sua respiração ofegante e sem ritmo foi o julgamento que eu precisava. Diria que sob tais estrelas, sozinhos naquela imensidão, tinha tudo pra ser romântico. Exceto o frio e a coceira que a grama causou.


E todas as vidas são assim. Fumegantes, apaixonadas. Você pode escolher acreditar na luz, no sol, no mar. Você pode se enganar. Eu acredito e acolho essa solidão que o mundo nos prepara e envia. E quando tem algum terremoto, não é o chão quem treme. Mas sim o resto todo do mundo. A convicção é apenas o primeiro passo. Depois dela, depois que realmente passa-se a crer nas coisas, quando não existem mais possibilidades, apenas fatos, a vida desmaia também. Nem eu poderia penetrá-la, saciá-la, excitá-la. A vida prefere o desacreditar da gente, as batidas de dedo nos móveis, o dia chuvoso sem guarda-chuva, o infarto fulminante.


E o bom mesmo foram as desculpas que eu não precisei dar. Ela já me conhece. Sabe até onde eu iria. Sem forçar barra alguma, ela levantou-se e vagou, sozinha. Permitiu que nossa paixão continuasse. Ela lá e eu por aí. Não precisei ser rude, nem gritar. Sequer precisou ler minha mente. Ela sim, me ama.


E eu lá, deitado, com o zíper aberto, os olhos vidrados e passando frio. "Droga" balbuciei. Devia ter pego seu casaco emprestado. Isso sim é amor!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Sétimo: Revólver de Proficiência

O barulho era irreprodutível. Só posso chamá-lo de ensurdecedor. Talvez pela distância dada – a menos de dois pés -, ou pela aproximação ainda mais visceral com o destino traçado de berço. O cataclismo parecia cumprir-se. E a mão sangrenta da sina apertava a minha findando todos os pontos sem nós.


A visão foi escurecendo. Escureceu tanto que tudo ficou muito claro. Muito mais nítido do que jamais fora (é preciso de uma grande quantidade de sombras para que a luz evidencie-se).


Atropelado pelo trem das seis e meia, pude respirar fundo antes de amolecer.Meu rosto e todo lado direito do corpo chegara ao chão antes que minhas mãos (retardadas pelo efeito do tempo) pudessem me aparar. Tremeu! Meu coração badalou e suas catedrais anunciavam a última missa. Meus olhos seguiram o rumo do relâmpago – Uma bela procissão poética!


O vento vibrava ao pé do ouvido. Sussurrava minha canção de ninar preferida – Não tenha medo! – disse a voz. Seu final feliz beija-te a testa – continuou. E que lábios! (quentes e petrificantes).


A essa altura já contava as estrelas do teto e nadava pelas anotações da parede. O alterego das escalações temporais, animal selvagem, não-domesticável, aplicara suas lições e rabiscado os pilares. Tal selvageria entranhara-se em cada vestígio meu. E como um CD partido era agora uma porção de canções amaldiçoadas.


A arma do destino fora apontada em minha direção mas seu tiro também calou-se.

segunda-feira, 15 de abril de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Sexto: Eu Sobrevivo aos Números

Rasgado. Após ter em mãos os documentos que reacendiam minha memória, minha lembrança reagiu junto aos estímulos nervosos da minha espinha dorsal, e como um selvagem, um animal talvez extinto no seu mais gutural ruído de raiva, fui levado a dilacerar cada dia que continha naquelas linhas.

Semanas, horas, datas. Eu sobrevivi aos números. Às hipóteses. E em cada possibilidade, relutei e confrontei minha já extinta paciência.


Eles sentem-se rejeitados. Vociferante como um predador nato no seu mais alto nível de sobrevivência, eu mantenho a distância exata, em passadas, ângulos, cossenos, respirações. Suficientes para atacar e devorar. Estou tão longe de todos eles, que isso dói. Tão inaceitável que as correntes de lágrimas dão lugar a esta raiva e reclusão. Eu renego todos, impondo minhas diferenças vorazes. As mais primitivas. Eu corto e fatio, e construo o que for preciso para essa alteração. Jamais seremos primos, vizinhos ou espelhos. Porque por mais próximos que estejamos materialmente, eu sempre correrei pra fora desse imenso mar que é a minha compaixão.


Eu faço as coisas de trás pra frente. Minha vida é um anagrama. Uma discordância das vozes e dos atos. Ideologias baratas, fáceis. Nada inovado. Eu apenas pego vidro e reviro em cacos. Tudo como era antes. E tudo como sempre será. Sem surpresas, sem alterações. A vida badalada e enfraquecida. Os lábios frios e as mãos congeladas.


E tornando-me cada vez mais estranho, distante (diferente), mais sofro. Mais me batem. Xingam. Sinto a raiva no fundo de suas íris manchadas. E não há nada que eu possa alcançar. Alçados sob um precipício obscuro, minhas correntes são incapazes de libertá-los. Eu permaneço com meus olhos vidrados, meus lábios secos. A mão trêmula que deixa escapar o copo (e o passado).


Vivo nesta cama, deitado. Imaginando como seria a vida. Admitindo e aceitando as derrotas sexuais, seticistas. Englobando a fé nesse pequeno redemoinho de uísque. E engolindo, gota a gota, esse Deus que me abandona justo agora, quando meus dias vão evaporando em centímetros. Enquanto minha pele resseca em metros cúbicos. Durante meus tragos dobrados, e agora já triplicados. E é claro, milímetro por milímetro da minha voz rouca, que não mais se expande.

Eu sou Clive, sobrevivente somente aos números.

segunda-feira, 18 de março de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Quinto: Coisas Que Eu Não Sei Dizer Olhando Pra Você

Eu sinto que a esta altura do jogo, vocês gostariam de ler algo mais sólido, eficiente ou quem sabe ''de uma maturidade construída'' sobre mim. Ou talvez não desejem nada. Estejam zerados de esperanças e expectativas (o que eu aconselho). Mas se escolheram a primeira opção, talvez esteja na hora de uma nova decepção. Eu não vivo esta fuga de vida com a intenção de superar hábitos questionáveis, tornar-me uma pessoa melhor etc. Eu deixo isso pra quem se contenta pelas linhas retas e pintadas. Porque eu faço da minha existência uma bagunça assimétrica, rabiscadas e amassada. Eu desentorto com o vento que me despenteia, e com o amigo etílico que me faz dançar pela calçada. Você pode se julgar melhor ou mais evoluído. Caso esta seja a opção, pare agora mesmo e gire em torno do meu middle finger.


Depois de tais palavras vomitadas, eu ergo um novo copo pelo sol que começa a adormecer. Que paisagem! Eu poderia utilizar de adjetivos rotineiros e que até expressariam entendimento. Poderia usar um palavrão. Mas vou resumir com um suspiro nostálgico. Meus melhores (e piores dias) foram banhados pela imensidão alaranjada desse amigo traíra. E é dele que espero um último abraço, qualquer hora.


Eu pensei em dividir o relato a seguir em partes. Talvez subcapítulos. Mas eu não sou diretor de teatro, então eu despejo tudo que tenho logo no primeiro ato, mesmo antes das cortinas se abrirem. Porque não vejo verdade mais promissora do que uma mentira criada na hora.


Eu encontrei ela pelo corredor. Ela me fitava com certa análise, o que me incomodava. Mas talvez fosse só mais um transtorno neurótico. Então engoli pensamentos e selei minha mente antes que ebulisse. Os dias seguintes poderiam ser detalhados, mas eu prefiro pular de uma ponte sem bungee jump ao ter que narrar tudo. Vamos à ação!

Depois de trocarmos palavras soltas, até um pouco sem sentido e de nos embebedarmos das mesmas culpas, senti como se ela vivesse no mesmo mundo que o meu. Aquele que eu tanto cito. Ou ela era viajante, ou recém chegada. Mas eis suas palavras que jamais esbranqueceram no meu cérebro:


"Um dia, quando tu enfrentares teu turbilhão de arrependimentos, brigas, medos e parar de desgraçar a todos que te oferecem um sorriso, eu sei que tu alcançarás a verdade que procura..."
Engolido. Jamais digerido. Jamais esquecido (Ok, esquecido por alguns porres), Mas esta frase me atropelou tantas vezes, que senti medo de jamais vê-la de novo. Perdi os dias, alguns meses e quase um ano. E eu tenho muito o que dizer. Ela me desafiou.

Mas acho que desta vez estas seriam as coisas que eu não saberia dizer olhando pra você...

sábado, 2 de março de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Quarto: Eu estou bem...

Eu sempre vejo além. Estou cego para os fatos a minha frente. Não os vejo nem os sinto. Enxergo sempre as curvas que estão por vir. Percebo os buracos da estrada, as inúmeras casas que passam em rápidas piscadelas e até mesmo as gaivotas que pintávamos ao lado das nuvens azuis da infância.



Como numa viajem locomotiva, o tempo vai passando pelos meus olhos, em quilometragem por hora. É tudo calculado como distância. Nesse espaço sujo e hostil que a vida ensina a desafiar. Substâncias controladas me ajudam na viajem, e até mesmo aquelas que proibimos com a boca, mas que engolimos sem nem perceber.



Eu vejo mundos distantes e jamais vivo o presente inóspito. Eu vivo sempre para além de mim.



Eu acordo durante as madrugas e me reviro. Frito em pensamentos no colchão. Espero algum tempo com a sensação de que alguém chegará e se deitará. Logo, espremo os olhos até sangrarem de ressentimento. Saco a garrafa que comumente está ao lado da cama (ou embaixo), e dou um gole caprichado.



Eu vivo pra quebrar a vida antes que ela me derrube de novo. Porque quando se está no chão, aprende-se a rastejar. Eu vivo na dor e na falta de fé. Porque eu sei que só o que eu preciso, é dizer alto para que todos ouçam: "Eu estou bem". E convencendo-os, fico na esperança de que alguém venha e me convença também. Porque eu não posso ser seu brinquedinho sexual fofinho. Não sou seu leão, nem seu tigre.



Ele disse: E quando a beleza também se acabar?

E eu respondi: Espero que até lá tenham inventado algo mais forte pra memória, como vodca batizada ou algo do tipo.

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Terceiro: Geração do Nada, Eu Voltei:


" Ando distante. Temeroso. Fui gerado sob a dúvida e a dor. Minha geração está abandonada. Disseminada. Lastimável. Sou um viajante incorrigível. Não faço rimas. Minha vida é assim mesmo, desfocada. Como um balde de tinta qualquer jogado sobre a obra de um artista. Eu tingi essa terra com meu orgulho e minhas pragas. Tarde demais para arrependimentos! Eu voei, como qualquer mortal desejaria, e beijei flores douradas dos Elíseos. Quando fecho os olhos quase ouço as ninfas cantarem. Suburbano dos céus. Eu me enfio em corredores apertados e caço papel e caneta pela madrugada. Tudo para manter-me vivo. Para manter este mundo intacto. Essa geração indefesa, consumida no próprio ódio. Ódio de si mesmo, sua própria imagem aversiva e cognitiva. E em todos me encontro num canto de lábio ou num bater de cílios. Antagonista de si mesmo. Vivo um dia por vez. Mas misturo os arroubos do passado com as descrenças do futuro. Gasto meu dia todo num encucado problema, e sofro. Grito antes da agulha me espetar, mas sorrio depois. Sou egoísta demais pra deixar que todos se ferrem sozinhos. Eu abraçarei o mundo, e gemerei com ele. Até que acabe a tinta, e o meu ar. Enquanto houverem cores a serem descobertas e verdades a serem encobertas. Sem prazo definido, mas ciente de que um dia acabará. Como o sol, a imensidão do mar e dos frutos. Porque tudo, nessa terra amaldiçoada, nasce e prospera, apenas esperando o dia de cair sob o sono onipotente e perpétuo chamado morte. "

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Segundo: Enquanto Formos Jovens, Viveremos e Morreremos Por Nós Mesmos...

O escuro é uma metamorfose diferente dentro de cada um. Os diferentes prismas que as sombras podem ofertar, são jóias singulares e peculiares, dentro de seus próprios mundos inventados. Por exemplo, no escuro do meu quarto eu me sinto seguro. Protegido. Nada pode me atacar. Ao mesmo tempo, baixo as defesas e algo em mim parece se revelar. Talvez uma parte que jamais seja apresentada às pessoas. Um versículo arrancado e remoído de uma poesia parafraseada de alguém com muita solidão e libertinagem a oferecer. Sob o escuro do meu quarto, eu me permito ser fraco e degradante. E assumo a responsabilidade de aguentar a culposa e silenciosa penitência que as paredes oferecem.


Mas ainda assim, para uma criança, as paredes do quarto são como muralhas do seu castelo.


Há milhares de mensagens subliminares escondidas ao redor destas paredes. Tantas gargalhadas. Tanta culpa. Tanto desprezo. Tudo foi tingindo e varrendo as verdades pra baixo do tapete numa tentativa de justificar todos os erros conseguintes.


E aqui eu compus canções pelo meu corpo. E meu pulso foi a tábua preferida pra justificar as composições. Eu sou uma orquestra toda trabalhando sem um maestro. Eu só faço barulhos incompreensíveis.


Por outro lado, sob o escuro da rua eu ganho forças. A noite me concede a liberdade que qualquer poeta necessita. Eu assovio pontes e aspiro neve em flocos. Toda a insegurança injeta a droga que eu preciso pra criar. Pra existir. Eu danço com o sexo e a noite. Porque o dia é a minha ressaca recorrente. Eu bebo o pôr-do-sol porque só ele entende as minhas lágrimas aprisionadas pelo meu orgulho, e a minha corrida incessante de mim mesmo. Corro pelo crepúsculo, mas corro ainda mais pra não chegar a lugar algum.


Só ele sabe que eu grito no escuro porque acho que alguém, algum dia, me ouvirá e me resgatará. E eu bebo a voz das estrelas e a auto-piedade que sobra. Eu trago de volta cada dor pra assim viver uma noite mais. Eu sangro meu coração todo fim de noite, mas ninguém percebe. Mas agora eu preciso guardar tudo o que me sobrou pro próximo drink.

Eu vivo rápido e morro jovem várias vezes, e esse é o meu destino.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Primeiro: Bebo A Vida Que É Minha

"Enganado estava aquele que recusou minha mão. Eu estendo esperança aos desabrigados de amor. E mesmo reprimindo minhas própria docência e pondo ao altar toda minha culpa, sentencio meus erros com a solidão. Eu não sou bêbado porque bebo. As drogas mais comuns e tão faladas não são o problema da humanidade. As pessoas tornam-se seus próprios demônios, e a caçada ao céu, afasta-se ainda mais cada vez que meus pulsos se abrem e as cicatrizes relembram minhas fúrias. Eu bebo a torcida negativa para a minha morte, e danço com a sombra negra da felicidade. Não sou bêbado porque bebo culpa e sofreguidão. Meu amor é auto-destrutivo, indecente. Eu reconstruo verdades, e aspiro o pó da minha realidade. Meus lábios se comprimem, numa mordida voraz, enquanto minhas mãos ficam ásperas e meus olhos calam. Eu sou dançarino das letras, contemplo a noite nos seus perigos e convites maldosos. Porque existem abraços que são como beijos, e eu bebo eles também. Mas não sou bêbado porque bebo. Nem sou feliz porque sorrio. Sou a verdade do medo, e a ressaca da compaixão. Não sou nada além de um guerreiro do nada. Mas agora você ficará sentado, vendo meu mundo girar e lidando com sua fraqueza. Eu recolhi minha mão, meu abraço e até meu beijo. Entreguei-lhe ao caloroso abraço do passado. Eu não sou bom quando amo, e tampouco me importo com as feridas que causo. Dor é a marca de nascença da humanidade, e se tu ainda não consegues respirar sem as palavras dos outros, tu não estás pronto para dançar comigo. Eu bebo porque amo. Mas bebo ainda mais porque desamo."



Eu não sou caso perdido, nem epidemia de pessimismo. Não me acho negativo como acusam. Mas entendo que sintam-se ofendidos pelos meus pontos de vista. Eu não vivo pra agradar as boas vontades. Eu luto pra mostrar outras facetas de nós mesmo. E bem, se eu não puder odiar tudo o que eu quero e amar as coisas ruins, então dane-se essa tal liberdade. Porque eu sei que posso ser amado em cada centímetro das minhas atitudes, e sei mais ainda que posso fazer-te desgostar mais rápido ainda. Eu sei aonde a ferida dói, e é sempre nela que eu quero chegar.



Eu não quero viver mais da mesma peça. O meu objetivo é o improviso. Perder a rota. Se eu quisesse contos de fadas eu viveria pela infância. Eu nadaria pelos lábios que mandam eu gostar. E nem rebelde sou. Eu só amo cada parte das confusões que causo, e mais do que isso, eu perco os sentidos em busca de algo maior.


Ok, eu não sei ao certo o que eu quero, mas ter uma vida planejada com regras e horários na certa que não é. Eu gosto mesmo é do sabor de malte das tardes inconsequentes. De olhos borbulhantes pela primeira aventura. Eu carrego os medos nas costas, e quem vem comigo, está protegido das dores. Eu as trago pra mim. E as trago. E levo.



Não há nada como a primeira vez. Só esse sabor me importa. A primeira vez repetidas vezes. Várias, incontáveis. E se eu puder extrair diversas primeiras vezes de alguém, bem, acho que estarei apaixonado. Porque para amar, eu preciso matar algo que esteja adormecido.





"Uma coisa que tenho aprendido é que as coisas mudam, as pessoas mudam e até mesmo nós, se olharmos pra trás, veremos que já não somos como éramos antes. E acho que tudo isso acontece porque vivemos, não ficamos parados, é nossa história sendo escrita. Deve ser horrível você olhar pra trás e ver que não construiu nada, que não sofreu, não chorou, não sorriu... ver que continua na mesma vida, do mesmo jeito, e na maioria das vezes por medo de fracassar. Acho que o maior covarde é quem age assim, sempre com medo de fracassar."



Dimitri, Desejo.