sexta-feira, 24 de maio de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Oitavo: Se A Vida Me Desse Um Mapa, Era Com Você Que Eu Gostaria De Me Perder...

Na vida, a gente escolhe em que acreditar!

Dizendo isto, a profecia parecia cumprir-se. Claro, essa não era a resposta que eu precisava, mas isto soou tão bem que eu nem questionei. Cheguei mais perto, passei meu braço por sobre seus ombros delicados e escorei a cabeça junto a dela. O frio fazia aquela 'fumaça' sair de nossas bocas, enquanto tragávamos o silêncio. Pensei em dizer algo inteligente, talvez até filosófico. Mas o que saiu foi "essa droga de vida é culpa tua!". Mais uma pausa. Nem a olhei. Não precisava. Sabia que suas bochechas estariam coradas e seus dentes rangeriam como escape para evitar o fluxo descontrolado de xingamentos que viria. Ela sempre foi superior. Tudo o que eu queria era a briga seguinte, que não aconteceu. Pela primeira vez senti que concordamos.


Culpar alguém por suas más escolhas é ridículo, eu sei. Nem mesmo pedi pra que você estivesse lendo isso agora. Então se quiser, pare. Volte. Pense bem: O que histórias de um condenado podem te acrescentar positivamente? Sou só um cão vagabundo, sem dono, sem rumo. E aqui nem tem poesias ou histórinhas de amor pra te envolver. Na boa, pode desistir. Eu só vivo as más escolhas, porque cheguei atrasado pras boas.

Ela então deitou-se, e meu corpo se sentiu na obrigação de acompanhar o movimento. Culpa da gravidade, vocês sabem. Minha mão esquerda escorregou para sua coxa, e em seguida para a virilha. Sua respiração ofegante e sem ritmo foi o julgamento que eu precisava. Diria que sob tais estrelas, sozinhos naquela imensidão, tinha tudo pra ser romântico. Exceto o frio e a coceira que a grama causou.


E todas as vidas são assim. Fumegantes, apaixonadas. Você pode escolher acreditar na luz, no sol, no mar. Você pode se enganar. Eu acredito e acolho essa solidão que o mundo nos prepara e envia. E quando tem algum terremoto, não é o chão quem treme. Mas sim o resto todo do mundo. A convicção é apenas o primeiro passo. Depois dela, depois que realmente passa-se a crer nas coisas, quando não existem mais possibilidades, apenas fatos, a vida desmaia também. Nem eu poderia penetrá-la, saciá-la, excitá-la. A vida prefere o desacreditar da gente, as batidas de dedo nos móveis, o dia chuvoso sem guarda-chuva, o infarto fulminante.


E o bom mesmo foram as desculpas que eu não precisei dar. Ela já me conhece. Sabe até onde eu iria. Sem forçar barra alguma, ela levantou-se e vagou, sozinha. Permitiu que nossa paixão continuasse. Ela lá e eu por aí. Não precisei ser rude, nem gritar. Sequer precisou ler minha mente. Ela sim, me ama.


E eu lá, deitado, com o zíper aberto, os olhos vidrados e passando frio. "Droga" balbuciei. Devia ter pego seu casaco emprestado. Isso sim é amor!

quinta-feira, 2 de maio de 2013

Eu sou... Clive B. Capítulo Décimo Sétimo: Revólver de Proficiência

O barulho era irreprodutível. Só posso chamá-lo de ensurdecedor. Talvez pela distância dada – a menos de dois pés -, ou pela aproximação ainda mais visceral com o destino traçado de berço. O cataclismo parecia cumprir-se. E a mão sangrenta da sina apertava a minha findando todos os pontos sem nós.


A visão foi escurecendo. Escureceu tanto que tudo ficou muito claro. Muito mais nítido do que jamais fora (é preciso de uma grande quantidade de sombras para que a luz evidencie-se).


Atropelado pelo trem das seis e meia, pude respirar fundo antes de amolecer.Meu rosto e todo lado direito do corpo chegara ao chão antes que minhas mãos (retardadas pelo efeito do tempo) pudessem me aparar. Tremeu! Meu coração badalou e suas catedrais anunciavam a última missa. Meus olhos seguiram o rumo do relâmpago – Uma bela procissão poética!


O vento vibrava ao pé do ouvido. Sussurrava minha canção de ninar preferida – Não tenha medo! – disse a voz. Seu final feliz beija-te a testa – continuou. E que lábios! (quentes e petrificantes).


A essa altura já contava as estrelas do teto e nadava pelas anotações da parede. O alterego das escalações temporais, animal selvagem, não-domesticável, aplicara suas lições e rabiscado os pilares. Tal selvageria entranhara-se em cada vestígio meu. E como um CD partido era agora uma porção de canções amaldiçoadas.


A arma do destino fora apontada em minha direção mas seu tiro também calou-se.