domingo, 3 de novembro de 2013

Torta de Manhã

É, às vezes eu não sou nada além disso: Um pedaçinho do que sobrou do café-da-manhã. Mas quem se importa? Eu ainda não sei se sou a cafeína adoçicada, energia do amanhecer. Talvez eu seja só um pedaço de torta de damasco, e todo o sonho infantil na casa da vovó.

Geralmente eu sou redutivo, reduzido a estas linhas. Escrito em 3 minutos, sem interromper a ideia. Raramente algo é refeito. Apagado para ser reconstruído. Por vezes, eu sou só essa soma de palavras da madrugada, e pela manhã, tudo já se foi.

E eu não preciso ir muito além disso. Assim como a música, eu sou só o último gole de refresco, a mordida que sobrou da torrada com geleia. Poucas vezes eu sou algo além disso, e quando isso acontece, talvez eu seja pão doce ou duas colheres de arroz.

Mas quem posso enganar? Isso tudo não é pra saciar minha fome. Eu só quero aquela cabeça leve no travesseiro, e em algumas noites, o tic-tac do relógio na cozinha. Mas num todo, sou apenas pizza gelada e suco de laranja.

E eu não sei aonde posso chegar. Não sei o que já consegui. Sei o que desperdicei, o que destruí, o que roubei, o que finji. Sei até aonde o meu amor me consome, e sei bem do que preciso. Mas essas respostas chegam tarde, chorosas e azuladas. Mas nestas horas, eu sou apenas um prato-feito, sem sobremesa.
Eu sou um escritor (não sou?) e me reafirmo em cada gole dessa partida.

Tic

Tac