terça-feira, 7 de janeiro de 2014

Não Achei que Precisasse de Título:

Hoje, pensei em fazer algo um pouco diferente. Abandonando minha poesia fajuta, planejada, sentei e estou escrevendo. Não pré-estabeleci regras ou conteúdos, apenas peguei essa folha e essa caneta (que vocês não veem) e pretendo ir até aonde achar que devo. Não sei quando começarei (ou se já comecei), mas sinto que há algum tipo de mundo pedindo para ser encontrado, e as linhas deste papel rasgado ao meio, são meu mapa.

Num mundo de pessoas tão anestesiadas, (inclusive eu), pretendo romper este estrangeirismo cotidiano, essa insuficiência estética e intelectual e apenas contar um pouco do que minha mente irrompe. Seria um constrangimento reler estas frases (e as que estão por vir), então deixarei como está, sem retoque, sem pincel mágico.

Talvez esse seja o maior obstáculo para um sobrevivente das letras, e mais do que isso, para um ceifador de palavras noturnas. Não estou, em momento algum pretendendo ou almejando algum tipo de ligação afetiva ou utilizar este espaço para um desabafo (mas o que é a arte, senão uma peculiaridade intimista exposta sob os véus da ilusão criadora?).

Eu começo assim: Hoje, o sol queima um pouco mais do que ontem. Como que um ladrão, um mal-feitor invadindo meu quarto, ele transgride as janelas e o pano vermelho em uma delas (que tentara bloqueá-lo), e me atinge, e fere. As manhãs são sempre as mesmas. Eu bebo o meu silêncio e solidão, remoendo as raivas da noite passada, faço uma lista mental de próximos passos e a rasgo quando saio no quintal.

Talvez essa solidão imensa, esse grande abraço no escuro seja uma perda irremediável. É bem possível que eu nem esteja mais aqui, nessa terra de dores e sonhos inatingíveis. Acho que parti, sem perceber, desaparecendo numa nebulosa que ainda não chegou. E não chega.

No gramado de casa, eu planto e implanto algumas tardes amorosas, uns desenhos de romance e uma cabana roxo escuro. Jamais dormiria lá. Jamais dormiria longe da minha coberta xadrez ensopada de angústia. Eu jamais durmo.

O fim da tarde é o irrecusável, o banho de chuva que não cai, o afogamento no ar que dilacera os poros nasais, a congestão dos brônquios e a alergia ao mundano. Um óculos grande e escuro que cobre as lembranças, lábios rosados que beijarão facilmente (e morderão como de costume) e um punhado de derrota, língua abaixo.

A noite é o de sempre, tu sabe: a força que me derruba, a dança com qualquer um, a música que estoura as felicidades disfarçadas, o perigo vizinho, a saudade inconsolável e inadmissível e o quase amor, que ficou no quase, porque é assim que tem que ser. E é.

A madrugada é esse pedaço entre o céu e inferno, entre castigo e redenção. Não. A minha madrugada é o mergulho no fogo, nos crimes contra o meu eu, a insolência da imperfeição. São os olhos que procuram beleza no espelho, o espelho que rebate com vozes familiares e vociferantes: Não, tente de novo!
A madrugada são as marcas no corpo, o cabelo sujo, as unhas infectadas. A carne lateja, o sangue ferve, gela, estaciona. E um longo congestionamento que ultrapassa as linhas da imaginação, da vontade, do desejo e do real. É só uma realidade recriada, uma cena de Tarantino num boteco bagaceiro, sem escrúpulos.

Não se fazem poetas como antigamente.